I - CAPELA DE NOSSA SENHORA DA NAZARÉ

À margem direita do rio Vouga, no lugar de Drizes, U. F. de S. Pedro do Sul, Várzea e Baiões, vislumbra-se o pequeno templo de evocação mariana: a capela de N.ª Sr.ª da Nazaré.

Recorda-se a sua particular importância no contexto da religiosidade local, uma vez que a ela vão, em peregrinações, romarias e outras manifestações religiosas, as populações próximas e distantes, especialmente no dia 8 de setembro, data da sua festa.

A planta do edifício é longitudinal e apresentavolumetrias diferenciadas,no que é antecedida por um alpendre suportado por colunas graníticas. A fachada principal, que é aberta por um portal de verga reta, termina numa empena definida por cornija, com cunhais marcados por pilastras que terminam em pináculos. Por sua vez, a lateral esquerda evidencia os corpos correspondentes à nave e à capela-mor. O alçado da nave é aberto por uma janela e por porta de verga reta com cornija saliente. E, do lado contrário, adoçado, vê-se um volume mais baixo, que se identifica com a sacristia.

Mas, a simplicidade que se observa do exterior contrasta com a ostentação decorativa do interior, numa harmónica conjugação da talha dourada dos retábulos com a pintura dos restantes ambientes. O retábulo-mor e os colaterais inscrevem-se num barroco regional tardio, destacando-se pela profusa exibição de motivos ornamentais, se bem que, no caso dos retábulos colaterais, já se observam temas de inspiração neoclássica. Assim como neoclássicas são as grinaldas e flores pintadas no arco triunfal. Nos caixotões do teto representam-se santidades; e na capela-mor símbolos marianos inscritos em cartelas.

A boa conservação do templo evidencia intervenções recentes, exemplificando-se com o revestimento de caixotões do alpendre e sua substituição por ripas de madeira.


II - CAPELA DE S. MARTINHO DO BANHO

Seguindo o rumo da ecopista, sempre margeando o rio Vouga, chega-se a povoação das Termas, onde se levanta a capela de S. Martinho do Banho, que se insere na área arqueológica das Termas Romanas de S. Pedro do Sul.

Embora pequena no seu tamanho, a capela é grande na sua história.

A voz do povo, na sua tradição, diz que as pedras da capela vieram transladadas de um outeiro próximo ao castro do Banho para o lugar onde agora se encontra. Há quem pressinta que a capela é tão antiga que vem do tempo dos fenícios, povo da antiguidade que subiu o Vouga e mercadejou com as populações autóctones.Outros, contudo, mais avisados, já consideram que é a cristianização, nos reinados de suevos e visigodos, de um templo pagão mais antigo que serviria ao culto nas termas, o que ganha força na descoberta de uma inscrição romana (séc. II d. C.) aos deuses protetores das águas medicinais e na identificação de ruínas romanas no subsolo da capela. Mas, isto que se diz vem mais da intuição dos leigos do que da ciência dos especialistas.

Segundo os mais recentes estudos nas áreas da história, da arquitetura e da arqueologia, a construção original da capela de S. Martinho do Banho é atribuída aos primeiros anos do séc. X (900-912), relacionada com a presença em Lafões da importante corte ásturo-leonesa do príncipe Bermudo (filho do rei Ordonho I e irmão desavindo do rei AfonsoIII “o magno”). O que mais consolida essa tese é a identificação arqueológica dos alicerces de uma igreja pré-românica debaixo da capela de S. Martinho, sendo que, reaproveitado na parede traseira, mostra-se o fragmento de uma janela tripla e arqueada, que pertenceu a essaigreja original do séc. X, tratando-se de uma peça artística de inspiração asturiana: um ajimez de arcos ultrapassados, raro a sul do rio Douro, com paralelo no ajimez existente na igreja de San Salvador de Valdedios (Oviedo – Astúrias), mandada construir pelo rei Afonso III, no ano de 893.

No chão desta capela terá pisado o rei D. Afonso Henriques, no ano de 1169, quando veio com a sua corte ao Banho de Lafões para tratamentos, depois da batalha de Badajoz.

Mas da igreja antiga só se tem notícia escrita nas Inquirições Gerais de 1258.

Fruto da inexorável ação do tempo, essa primitiva igreja pré-românica de S. Martinho do Banho teria ficado arruinada, derrubando-se o que restava e construindo-se, nos seus alicerces, a capela que agora se conhece, e que veio no âmbito das obras de instalação do Real Hospital das Caldas de Lafões, por D. Manuel I, no ano de 1504.

Um médico das Caldas de Lafões, António Pires daSylva (1696), também deixou memória dessa igreja original, informando que a igreja de S. Martinho do Banho fora igreja matriz de todas as igrejas circunvizinhas de Lafões, que a ela levaram a batizar o vouzelense S. Frei Gil e que, ao tempo de 1696, apenas se conservava a capela-mor posta nos alicerces da antiga igreja maior, procurada por ladainhas e romarias que a visitavam a 20 de Maio.

Trata-se agora de uma capela com uma fachada e um arco de feição gótica que mostra a data de 1504, que é antecedida por um pequeno adro lajeado e reaproveitamentos construtivos pertencentes à igreja original do séc. X.

Assim, a pequena capela de S. Martinho do Banho estabelece uma prestigiante ponte histórica nas Termas de S. Pedro do Sul: uma ponte de continuidade entre as termas romanas do séc. I e II d. C.; as suas origens cristãs e a relação com a corte lafonense do príncipe Bermudo; a presença do rei D. Afonso Henriques e da sua corte no ano de 1169; a transformação manuelina do balneum para o Real Hospital das Caldas de Lafões; e a ligação que a capela desde sempre manifestou com a identidade religiosa, cultural e patrimonial de quem reside na região ou de quem vem para beneficiar daságuas mineromedicinais, frequentando a capela para rezar, cumprir promessasou para, simplesmente, deixar ex-votos ao santo.


III - TERMAS ROMANAS DE S. PEDRO DO SUL

Na área arqueológica das Termas Romanas de S. Pedro do Sul, à margem esquerda do rio Vouga, fica um complexo termal medicinal de origem romana, tratando-se de um dos mais importantes e bem conservados do antigo mundo romano, com um uso contínuo ao longo de 2000 anos, recentemente intervencionado e beneficiado para funções culturais, turísticas, educativas e científicas.

Tirando partido das abundantes nascentes de águas mineromedicinais, do favorecimento geoestratégico dos eixos viários e da proximidade com o castro do Banho, é aos romanos que se deve à edificação de um primeiro balneum, que, conforme a análise feita à construção dos alçados, o terão feito em dois momentos: uma 1ª fase (fundacional) no séc. I d. C. (dinastia Júlio-Claudiana); e uma 2ª fase (ampliação e requalificação) no séc. II da mesma Era (dinastia Antoniniana). De uma e de outra dessas fases a arqueologia identificou alicerces, piscinas, paredes originais romanas desde as fundações até à cobertura, colunas completas (bases, fustes, capitéis), uma porta em arco de volta perfeita, uma intrincada rede para o escoamento de águas, pavimentos, revestimentos, moedas romanas e de outras cronologias, fíbulas, cerâmicas e duas inscrições latinas, etc.

Da Era medieval fica a continuidade de ocupação, primeiro com a construção, na área exterior, da original igreja de S. Martinho do Banho, no séc. X; depois, com a profunda relação que se criou entre a povoação, as águas e a monarquia portuguesa.

No ano de 1152, o rei D. Afonso Henriques concedeu à povoação do Banho uma carta de foral, para, no ano de 1169, o próprio monarca procurar nas águas alívio para uma fratura na perna sofrida durante a famigerada batalha de Badajoz, ficando desse tempo a designação de Piscina de D. Afonso Henriques, tratando-se de uma reedificação do séc. XII assente em estruturas romanas pré existentes. Ao longo dos 3 meses dessa estadia, o rei terá reunido no Banho de Lafões a cúria régia, com participação do filho D. Sancho (futuro rei D. Sancho I de Portugal),duas das suas filhas, o arcebispo de Braga, os bispos das dioceses portuguesas, o mordomo-mor, o sargento-mor, toda a chancelaria e a demais entourage afonsina.

Dão-se novas e importantes requalificações na transição do séc. XIII para o XIV.

Ao lugar fica também ligado o rei D. João I, a rainha Filipa de Lencastre e os príncipes da ínclita geração, especialmente o infante D. Henrique, que foi duque de Viseu e senhor de Lafões, legando depois o senhorio ao sobrinho D. Fernando, e deste para o filho D. Diogo, caindo com a sua morte na coroa, e mais tarde ressurgindo na posse do também infante D. Luís.

Mas, a fama e excelência destes banhos granjearam a visita de outros monarcas portugueses. Nos primeiros anos do séc. XVI deu-se o caso da outorga de uma carta de couto (1502), e de uma carta de foral novo (1515), mandadas passar pelo rei D. Manuel I, ficando as Caldas de Lafões dotadas de uma maior municipalidade. O mesmo rei terá beneficiado das águas e, nesse mesmo tempo, abonou fundos para que se convertesse o velho balneum no Real Hospital das Caldas de Lafões, ampliando, modernizando e reorganizando o espaço, entregando depois a provedoria do Hospital aos membros de uma influente família lafonense.

Continuam as sucessivas ampliações e modificações no edifício principal ao longo dos séculos seguintes: ainda nos finais do séc. XVI é construída uma casa da Câmara, tribunal e cadeia entre a capela de S. Martinho e o Real Hospital; no séc. XVII amplia-se a ala Norte e Este do edifício principal e constrói-se à sua ilharga a casa do Corregedor; no séc. XVIII é instituída a capela de N.ª Sr.ª da Saúde, transferindo-se um oratório e uma imagem da padroeira das águas, que então existia na sala da Piscina de D. Afonso Henriques, para um novo espaço sagrado.

O séc. XIX volta a ver transformações no edifício, primeiro com obras de adaptação e, depois, com a instalação de um Hospital Militar, que, contudo, não subsiste por muito tempo. E na década de 1870, o rei D. Luís ainda beneficia o balneário com a instalação de um conjunto de banheiras individuais que vieram substituir uma piscina mais antiga.

De 1886 em diante vai perdendo a sua função medicinal, seja por insuficiência de espaço para tanta procura, seja por inadequação das suas infraestruturas ao termalismo mais moderno.

No entanto, o último decénio do séc. XIX continua importante com a presença da monarquia portuguesa, registando-se a visita da rainha D. Amélia que, ao longo de 4 temporadas, procurou nas águas mineromedicinais de S. Pedro do Sul um refrigério para as suas vias respiratórias, deixando a marca da sua passagem no nome de um novo balneário entretanto construído, descontinuando-se o uso medicinal do antigo balneum romano.

No séc. XX perde essa função medicinal e logra outras funções: escola para a instrução primária, estabelecimento comercial (café), depósito de materiais, etc. Mas o descuido e progressivo abandono levou à sua rápida degradação, sobretudo ao desabamento provocado pelas violentas cheias no Vouga em 1995.

A área ficou em ruína, vedada e inacessível ao público durante mais de 30 anos.

Recentemente, o monumento e a sua envolvente foram intervencionados, com um projeto de requalificação, revitalização e valorização, constituindo-se numa marca histórica, cultural e patrimonial portuguesa.

Encontra-se classificado na categoria dos Monumentos Nacionais desde 1938.


IV - PONTE DAS TERMAS

Construída para transpor o rio Vouga, a bem lançada ponte, durante séculos, incluiu-se no decalque de um antigo e importante ramal viário romano, que ligava a via Viseu – Porto à via Viseu – Águeda, desde o entroncamento de S. Pedro do Sul ao de Vouzela, servindo as termas medicinais romanas, embora atualmente não se vislumbrem na ponte vestígios da sua provável origem construtiva romana.

A ponte do Banho documenta-se desde 1318, ano em que, num testamento eclesiástico, se legam verbas para a sua manutenção.

Depois essa ponte medieval passou por diversas requalificações ao longo dos séculos.

O seu tabuleiro assenta em 6 arcos (2 maiores nas margens e 4 menores no centro), com o arco da margem esquerda de feição tardo-medieval, construído em arco quebrado e ostentando marcas de canteiro, mas os restantes arcos são uma reconstrução moderna (1871), quando se intervencionou a ponte com vista à construção da Estrada Real n.º 41.

Presentemente faz parte do traçado da EN 16.


V - CASTRO DO BANHO

O castro do Banho localiza-se no lugar de Ferreiros (Serrazes), num esporão do terreno (215 m) entre a ribeira de Beirós e o rio Vouga, mas não longe das Termas de S. Pedro do Sul.

Trata-se de um antigo povoado fortificado que, na sua diacronia de ocupação, recua a origem ao Bronze Final ou mesmo já à Idade do Ferro, sofrendo depois uma profunda influência romana e atingindo então o seu apogeu (séc. I-IV), para continuar em funcionamento durante a Idade Média, quando finalmente a sua população se terá transferido do castro para a outra margem do rio Vouga, aproximando-sedo balneário medicinal o núcleo demográfico e começando assim de se formar a medieval vila do Banho.

O pioneiro no estudo do castro e que o deu a conhecer à comunidade científica foi o lafonense Aristides de Amorim Girão, no ano de 1918, secundado por outros: Afonso de Melo, Jaime Cortezão, Aquilino Ribeiro, Lucena e Vale, Cristóvão Moreira de Figueiredo, Manuel Bairrão Oleiro, Fernando Russel Cortez, João Crisóstomo, Henrique Paz, José Coelho e outros. Mas é já entre os anos de 1951-1954 que, para a direção de umas escavações arqueológicas, se vão nomear Russel Cortez, José Coelho e, principalmente, o académico conimbricense Bairrão Oleiro, conduzindo-se um conjunto de pesquisas com o objetivo de se preparar o castro para estudos mais sistemáticos e ordenados.

Ao longo dessas campanhas deixaram-se a descoberto para cima de 30 casas, de um total estimado em mais de 150 por escavar, procurando-se limpar a área, isolar as habitações e estabelecer uma ligação entre elas, o que deu a ideia de como se organizava e como as pessoas viviam nesse povoado. Embora maioritariamente circulares, as casas apresentam igualmente planta ovalada e quadrangular, dispondo-se no recinto definido pelo amuralhado primitivo, com a particularidade de algumas serem escavadas na encosta rochosa, formando-se um urbanismo simples e harmonizado com as curvas de nível do outeiro. Identificaram-se caleiras circundando as casas, pequenos aquedutos, pias e regos escavados na rocha, degraus, rampas, soleiras, bancos, lareiras e silos. Durante as escavações ainda se recolheram: tégulas e ímbrices, mós manuais, pesos de tear, pregos de ferro, campainhas de gado, vidraria, cerâmica doméstica vulgar e terra sigilata, vasos de bronze e de outros metais, uma fíbula de bronze completa,14 moedas dos imperadores Constantino, Constante e Galeano, etc.

Presume-se que a existência e manutenção do Castro do Banho se deva à magnífica situação estratégica: entre os dois cursos de água (rio Vouga e ribeira de Beirós), protegido pelas suas vertentes naturais e com muralhas nos pontos mais facilmente atacáveis e a meio caminho no controlo e defesa das duas nascentes termais (a principal, junto aos balneários, e a outra, junto a Valgode), reforçado pelos excelentes recursos cinegéticos da região e centralidade nas rotas de transumância, circulação de pessoas e de mercadorias.

A construção do balneum, no séc. I d. C., deve-se ter constituído no grande motor social e económico que contribuiu para uma tão evidente presença da cultura romana no povoado.

A área arqueológica do castro do Banho é Imóvel de Interesse Público desde 1957.


VI - SOLAR DO CONDE DE BEIRÓS

Implantada numa pequena elevação, no lugar de Beirós (Serrazes), com as vistas para os montes da Senhora do Castelo e Lafão, localiza-se a casa dos antigos condes de Beirós.

Trata-se de uma construção fidalga que, no seu atual aspeto, demonstra características setecentistas (1778) e oitocentistas, com a típica arquitetura dos solares beirões, muito conotada com a ascensão e queda dos condes de Beirós, cujo brasão permanece a encimar a porta principal do palacete.

Envolve a casa principal um belo jardim, com o edifício organizado em torno de uma estrutura conventual: espécie de claustro com colunatas (pátio interior) e uma fonte, ficando em redor as várias dependências (salões e quartos).

As terras de Beirós e Vila Verde já foram dominadas por uma torre medieval, não se descartando a hipótese de que a casa fidalga que agora existe seja um aproveitamento de outra construção mais antiga.

Uma inscrição refere a reedificação da casa no ano de 1591.

Também se documenta que, no ano de 1733, o capitão António Lopes da Costa, morador na sua quintã de Beirós, mandou fazer junto às casas de sua residência uma capela de evocação a Santo António, comentando-se que era capela muito bem feita de paredes, portas e caixotões. Mas, já em 1753 o proprietário era João Correia de Lacerda, que mandou fazer de novo a sua capela de Santo António junto das casas da sua quintã, por se ver tão antiga e arruinada. E, por fim, um seu sucessor, José Correia de Lacerda de Almeida de Matos e Vasconcelos, no ano de 1801, mandou que se fizesse uma nova tribuna para a sua capela da quintã de Beirós.

Mas o esplendor da propriedade deu-se durante a vida do 1º visconde e conde de Beirós, António Tristão Correia de Lacerda de Sousa Lebrim e Vasconcelos (1861-1917), ficando o solar ligado às luxuosas festas que o conde proporcionava à fina-flor da sociedade.

Ainda serviu de cenário para a rodagem do filme português “José do Telhado” (1945).


VII - SOLAR DOS MALAFAIAS

Também conhecido por Casa das Quintãs, é mais um dos solares regionais da conhecida família Malafaia, tratando-se de um palacete oitocentista construído a mando de Joaquim Freire Teles de Malafaia, após se ter transferido da sua residência de Santa Cruz da Trapa.

A casa fidalga ostenta uma arquitetura cuidada, possui uma capela privada e, na fachada principal, um bem cinzelado brasão armoriado.

Mas a casa é mais conhecida por nela se ter dado um violento crime, no ano de 1917, que vitimou o seu proprietário, Augusto Teles de Malafaia, às mãos de um seu primo e de outro indivíduo, cunhado deste, que dispararam 4 tiros de pistola, caindo o Augusto no chão do seu escritório e no meio de uma poça de sangue. O crime fez correr rios de tinta na imprensa portuguesa, ficando conhecido por “O Crime de Serrazes”. O caso foi investigado, julgado e os réus condenados, mas subsistindo sempre a dúvida: teve o homicídio um móbil passional, ou o intuito era a cobiça material?


VIII - PEDRA ESCRITA

É um dos mais emblemáticos monumentos patrimoniais da região.

A sua localização é numa pequena clareira de um pinhal, perto da bifurcação entre Freixo e Penso (Serrazes), tratando-se de um monólito granítico com cerca de 2,50 m (altura) por cerca de 2 m (largura), alisado numa das faces para que nela se gravassem um conjunto de insculturas que representam circunferências concêntricas com covinha central e retângulos divididos em quadrículas.

Distinguem-se por serem gravuras rupestres integradas numa cronologia alargada, estirando-se entre o Calcolítico – Bronze Final (3º ao 1º milénio a. C.). coevas da mesma civilização que ocupou o já próximo castro de N.ª Sr.ª da Guia (Baiões), pertencem às manifestações artísticas e rupestres do nordeste peninsular e da fachada atlântica, parecendo corresponder a um lugar sagrado e relacionado com a paisagem envolvente, sendo difícil, para o conhecimento atual, descodificar a simbologia presente nessas insculturas. Algumas hipóteses levantam-se: representações astrais, ciclos da natureza, rituais religiosos, funerários, sacrifícios, padrões territoriais?

Classifica-se na categoria dos Imóveis de Interesse Público desde 1947.


IX - ÁREA ARQUEOLÓGICA DO CASTRO E CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA

Sobranceiro na paisagem, o presente monte constituía-se num lugar estratégico de defesa e dominação visual das vias de comunicação ao longo do rio e do vale médio do Vouga, fundando-se no seu cumeum reduto castrejo de grande importância, conhecido agora por castro de N.ª Sr.ª da Guia (Baiões), que depois evoluiu para uma capela de evocação mariana.

O lugar, que é antigo, fortificado e pouco estudado, ao longo dos anos, foi motivo para que nele se tecessem lendas de castelos, mouros e tesouros. Explicava-se a edificação da capela a N.ª Sr.ª da Guia com a tradição de ser um sítio onde os mouros possuíam uma fortaleza ou atalaia, para daí saírem e infligirem violências aos cristãos, e para lá se recolhendo com o produto das ladroeiras praticadas. Os cristãos, de tão aflitos e prejudicados, evocaram a proteção da virgem Maria, que os guiou numa vitória face aos maumetanos. E que, para o cumprimento dessa promessa, edificaram no lugar uma ermida que consagraram a Santa Maria.

O certo é que no cimo do monte de N.ª Sr.ª da Guia nunca existiu um castelo mouro, mas sim um povoado castrejo mais antigo, depois cristianizado com a construção da ermida.

Trata-se de um sítio arqueológico identificado com um antigo castro, que teve uma diacronia de ocupação correspondente ao Bronze Final desta região beirã (1500–700 a. C.), beneficiando de interações sociais, culturais e económicas com o mundo mediterrânico, a fachada atlântica e o centro europeu relacionado com a cultura de Allstate, num recinto onde a arqueologia descobriu um grande depósito de fundidor e um conjunto importante de objetos de prestígio coincidentes com as sociedades guerreiras e as chefaturas da cultura castreja, o que leva a considerar que o povoado, no momento do seu apogeu, fosse um dos mais importantes centros de produção, transformação e distribuição metalúrgica da região, tirando partido da matéria-prima local (o estanho, que, juntamente com o cobre, serve para formar a liga de bronze) e da sua centralidade face aos circuitos comerciais regionais e trans regionais.

O castro seria circunscrito por uma débil muralha de pedra, que serviria mais para delimitar simbolicamente o recinto, do que, propriamente, para defender militarmente o povoado. Dentro desses muros, teria um aglomerado populacional, que vivia em cabanas redondas e construídas, na sua maior parte, com materiais perecíveis: paredes feitas com madeiras e ramos entrançados e cobertura também vegetal. Destas cabanas, o que costuma ficar é o seu fundo: o alicerce de pedra, o chão de terra batida e um forno ou lareira, já que o resto é matéria orgânica que desaparece.

A sociedade do castro subsistia da produção agrícola e da pastorícia, registando-se também uma forte mano-fatura ligada com a tecelagem, curtumes e olaria, mas incidindo na metalurgia, com a fundição, fabrico, reutilização e comercialização de objetos metálicos.

O fim do povoado deu-se cerca do ano 700 a. C., parecendo ter sofrido com um ataque, incêndio e consequente fuga da sua população, que abandonou definitivamente o lugar, para nunca mais nele se registar uma ocupação permanente.

Segundo novas teses alicerçadas na história dos territórios lafonenses e viseenses, ocume do monte, na transição do séc. IX para o X, pode ter servido de castelo ou atalaia a um príncipe asturiano de nome Bermudo, na sequência de uma revolta contra o seu irmão, rei Afonso III “o Magno”.

Seguiu-seuma consequente cristianização do lugar: a construção de um santuário mariano, a que se deu o nome de Nossa Senhora da Guia, já no séc. XI ou XII, e que, contínuas intervenções, muito contribuíram para a destruição do antigo castro do Bronze Final ou da atalaia medieval.

O santuário mariano de Nossa Senhora da Guia, para a comunidade são-pedrense, é de grande significado cultural e religioso, uma vez que a ele se vai em romaria na 2ª feira de Pascoela, numa das maiores festividades cristãs da região.

Nas décadas de 70, 80 e 90 do séc. XX, os arqueólogos Celso T. da Silva, Armando C. F. da Silva, António B. Lopes, PhilineKalp e outros tiveram mão nas sucessivas campanhas científicas, escavando, exumando e estudando um vasto e importante conjunto de materiais:
Dos materiais líticos: mós manuais, enchós, instrumentos de corte e raspagem, pesos de tear;
Do uso doméstico: foicinhas de alvado, argolas, taças, machados de duplo anel e de talão (alguns dos machados ainda dentro do molde de fundição);
De armas: pontas de setas e de lanças, e os punhais;
De adorno pessoal: colares e braceletes (dois torques e uma víria em ouro com 1,5 kg,pertencentes ao MNA), fíbulas de dupla mola, argolas, pulseiras, contas de colar, âmbar, etc.
De culto: carrinhos votivos, peças tumulares (braseiros, queimadores, incensórios?), uma fúrcula e uma ponteira;
Um conjunto importante de cerâmicas: a designada cerâmica do tipo Baiões/Santa Luzia, com as suas decorações e brunidos;
Recolheram-se sementes carbonizadas;
E os vestígios de muros, fundos de cabanas, lareiras e fornos.

Boa parte desses materiais encontram-se patentes ao público, numa sala dos Paços Municipais de S. Pedro do Sul, num núcleo expositivo a que se deu o nome de Coleção Arqueológica Monsenhor Celso Tavares da Silva, para dar a conhecer e valorizar este património cultural e arqueológico são-pedrense.

O castro, adro e capela de N.ª Sr.ª da Guia é Monumento Nacional desde 1992.